Sucesso é resultado de talento, perseverança, e sorte

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Robert H Frank Maritocracia

Achar que o sucesso depende só de você é bobagem, diz professor. Mas abraçar essa ilusão pode ser bastante útil em certas situações da sua carreira

Muitos profissionais que chegaram ao topo de suas carreiras acreditam que seu sucesso é resultado exclusivo de talento e perseverança. Estão iludidos: ainda que não admitam, eles provavelmente contaram com uma bela “ajudinha” do acaso.

O portador desse balde de água fria é o economista norte-americano Robert H. Frank, professor da Cornell University, colunista do jornal “The New York Times” e autor do livro “Sucesso e sorte – O mito da meritocracia”, recém-lançado pela Editora Letramento.

“A maioria das histórias de sucesso, especialmente de sucesso estrondoso, foi favorecida pela sorte”, afirma o professor em entrevista exclusiva por telefone a EXAME.com. Não que as competências individuais e o trabalho árduo não sejam obrigatórios para chegar lá — mas os resultados também dependem, invariavelmente, das circunstâncias.

Isso quer dizer que meritocracia é uma ilusão? Cauteloso com as palavras, Frank responde que a crença de que tudo depende de mérito é sim um mito, mas um “bom mito”, já que pode ser uma poderosa fonte de motivação.

Abraçar a ilusão de que o sucesso está atrelado ao mérito, e não à sorte, pode ser bastante útil quando você está numa fase difícil da carreira. Afinal, qualquer pessoa terá mais ânimo para lutar por um emprego, superar adversidades e evoluir profissionalmente se acreditar que tudo depende apenas dela. Veja também: Evoluir é fundamental para sobreviver na carreira

No entanto, opina o professor, acreditar plenamente na lógica da meritocracia só é útil — e defensável — para quem ainda não chegou lá. “Profissionais altamente bem-sucedidos devem ser os primeiros a reconhecer o papel da sorte para as suas vidas”, explica.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista com o autor:

EXAME.com — É possível estimar o peso da sorte para o sucesso profissional?

Robert H. Frank — É difícil falar em termos numéricos. Mas diversos estudos comprovam que a maioria das histórias de sucesso, especialmente de sucesso estrondoso, foi favorecida pela sorte, isto é, por fatores externos independentes do talento ou do esforço de cada pessoa.

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Veja a história de Bryan Cranston, o ator principal da série “Breaking Bad”. O produtor Vince Gilligan queria que ele fosse o protagonista Walter White, mas até aquele momento Cranston não era um ator muito conhecido. Seu único papel mais relevante havia sido numa sitcom chamada “Malcolm in the middle”, que passava na TV a cabo.

Ele era um bom ator, mas a maioria do público nunca tinha ouvido falar dele. Os chefes do estúdio não queriam um ator desconhecido. Convidaram Matthew Broderick e John Cusack mas ambos recusaram. Só depois das negativas desses dois famosos é que o estúdio resolveu oferecer o papel para Cranston. Desde então, o rosto dele virou sinônimo de Walter White e “Breaking Bad”.

Agora, se Matthew Broderick e John Cusack não tivessem recusado o papel, hoje Cranston não seria um dos atores mais bem-sucedidos da sua geração. Ele é muito talentoso e dedicado, mas chegou à glória por fatores independentes da sua vontade. É o que acontece com centenas de outros atores, que não despontaram apesar de terem qualidades semelhantes às dele.

Se a sorte tem um papel tão decisivo, não seria inútil tentar guiar nossas carreiras para um determinado objetivo?

Não, porque o acaso não é o único elemento dessa equação. São raros os casos de pessoas que se deram muito bem exclusivamente à base de sorte. Se você quer realizar algo, você precisa tentar, porque não dá para realizar muita coisa por acidente. É uma conjunção de múltiplos fatores que determina o curso dos acontecimentos. Nesse sentido, talento e trabalho duro continuam sendo fundamentais.

Meu único conselho para quem quer vencer na carreira é ser bom em alguma coisa e trabalhar muito. Se não fizer isso, é quase certo que você não conseguirá o que quer. De resto, basta torcer para ter sorte, mas isso obviamente é incontrolável.

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Como o senhor enxerga a crença na meritocracia?

Pode-se dizer que é um mito, mas talvez seja um bom mito. Às vezes acreditar que vitórias e derrotas são sempre justas traz motivação para as pessoas perseguirem seus objetivos, porque elas acham que o sucesso virá com o esforço. Começa quando os pais dizem aos seus filhos: “Só depende de você! Se você trabalhar duro, o sucesso virá naturalmente!”. Não é bem verdade, mas é bom acreditar nisso.

Experimentos psicológicos revelam que a crença na meritocracia é estranhamente adaptativa. Quando as pessoas têm sucesso, elas atribuem a vitória às suas forças e qualidades. Quando fracassam, elas dizem que foi por falta de sorte.

Curiosamente, isso é ótimo para elas. Quando você justifica o seu fracasso pela falta de sorte, você não ficará desmotivado e tentará outras vezes. Da mesma forma, quando você atribui seu sucesso exclusivamente às suas próprias competências, você continuará aceitando novos desafios, porque acredita que tem tudo o que precisa para aquilo dar certo. Essa é a postura ideal para perseverar.

Mas acreditar em algo falso não é perigoso?

Sim. Tudo muda de figura quando você já chegou lá. Profissionais altamente bem-sucedidos devem ser os primeiros a reconhecer o papel da sorte para as suas vidas. Se eles acreditam na meritocracia como algo irrefutável, isso faz com que eles se tornem mesquinhos e não apoiem programas que ajudem a criar mais oportunidades iguais para as pessoas no futuro.

É preciso reconhecer que pessoas que nasceram em famílias ricas têm mais probabilidade de ser bem-sucedidas. Elas merecem? Em certo sentido, não. Já um indivíduo com um talento gigantesco e uma enorme força de vontade que nasceu em um país desesperadamente pobre provavelmente não conseguirá transformar suas qualidades em sucesso. E não foi porque não merecia.

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O mercado de trabalho atual é mais meritocrático do que foi no passado?

Sem dúvida. Embora esteja longe do ideal, hoje há muito mais espaço para o mérito do que antes. Profissões comuns incorporaram a lógica dos esportes. Se você é um atleta profissional e não está contribuindo para o time ganhar o campeonato, provavelmente será dispensado. Não importa se você é simpático ou se o líder é amigo da sua família. O mesmo começa a valer para outras áreas de atuação.

No entanto, o mais provável ainda é que o capitão do time ou o finalista do campeonato — quem chega ao topo da hierarquia numa empresa, fora do mundo dos esportes — não chegou lá exclusivamente por mérito, mas também graças a fatores externos.

O que empresas e pessoas podem fazer para tornar a competição profissional mais justa?

Ainda há muito preconceito no universo do recrutamento. As pessoas tendem a contratar profissionais semelhantes a elas em raça e gênero, por exemplo. Quem trabalha com isso precisa tomar providências para reduzir esses vieses discriminatórios e tornar o processo de contratação mais meritocrático. Contratação: Saiba com a Xerpa como utilizar a tecnologia para otimizar os processos de recrutamento Patrocinado

Do ponto de vista do candidato, também há muito a se fazer. Não faltam exemplos de pessoas que chegaram ao sucesso depois de muitas tentativas frustradas. Uma das razões para que elas tenham chegado ao sucesso foi que continuaram tentando de novo e de novo. Se você mantém uma postura de resiliência, a probabilidade de eventualmente conseguir o que deseja será muito maior.

Robert H. Frank

Robert Harris Frank (nascido em 2 de janeiro de 1945) é Professor e Economista da Universidade de Cornell. Contribui para a coluna “Economic View”, no Jornal The New York Times. Autor dos livros “O Naturalista da Economia” e “Microeconomia e Comportamento”

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